domingo, setembro 24, 2006
Uma verdade conveniente
Não mergulhava tão profundamente no PIB desde que voei com José Sócrates para Angola num avião cheio de empresários. Esta é a primeira e óbvia impressão que qualquer jornalista ou curioso teve ontem ao entrar no Convento do Beato para a segunda Convenção do Compromisso Portugal. Obviamente, esta sensação não tem nenhum valor em si mesma. Quem for a um casamento de uma filha de um banqueiro ou a um ‘cocktail’ de embaixada vive exactamente a mesma experiência, com a vantagem de comer e beber decentemente.
Mas o Compromisso Portugal ”versão 2006” ganhou claramente face ao desfile de 2004. Talvez tenha tido menos ‘hype’ por não ser uma novidade, mas ganhou substancialmente com o momento político. Em 2004, o Compromisso era facilmente visto como um cavalo de Tróia de propostas que o governo de Durão Barroso não arriscava fazer e que, assim, tinham um primeiro teste na opinião pública e com a vantagem de ter pessoas a dar a cara por elas. Em abono da verdade, o movimento não era isso mas deu muito jeito ao governo, que fugiu como o Diabo da cruz de qualquer reforma com esse nome, com excepção de Manuela Ferreira Leite que se limitou a fechar a torneira, arte em que é mestra sem que daí venham grandes vantagens ao mundo, ao PSD ou a ela própria.
Desta vez também tivemos as leituras políticas óbvias. Cavaco recebeu o movimento em tempo recorde, porque fazia sentido e porque o seu ”Mourinho” (Alexandre Relvas) é um dos cabeças de cartaz. Sócrates, com cálculo e método, adiou a audiência porque se quer livrar da fama de liberal e porque já tem tanto capital na Banca e no mundo das finanças que um pouco de desprezo público até lhe fica bem, sobretudo quando o Congresso do PS se aproxima...
Para além do aligeirar da carga política foi óbvia uma maior consistência de propostas, sobretudo na Segurança Social, a única que pude ouvir e ler com bastante atenção. É uma proposta que mantém uma essência liberal mas que se aproxima da realidade, ou seja, do país, do sistema político e da nossa matriz constitucional. Em vez da tão falada privatização, estamos perante uma proposta de capitalização que tem, no mínimo, que ser discutida. Merece-o claramente, porque tem números, factos e projecções e não está ferida por nenhum preconceito ideológico. O PSD devia olhar para perceber como se faz uma proposta. PS, Bloco e PCP deviam, pelo menos, parar para a ler.
É uma área em que tenho muitas dúvidas e uma única certeza: o futuro não será risonho. Vamos todos (ou quase) pagar para receber menos. O tema é demasiado sério para não ser discutido. Não é por acaso que o Compromisso foi ”recrutar” para esta proposta Carlos Pereira da Silva, uma das pessoas que mais sabe de segurança social em Portugal, que trabalhou com Ferro Rodrigues anos e anos e que nunca ninguém imaginou ver no Convento do Beato. É óbvio que ser ele a falar é substancialmente diferente, do ponto de vista comunicacional, do que deixar todo o palco para os empresários do costume. Duvido que o Governo leve a sério a proposta e Vieira da Silva tem argumentos para a rechaçar. Mas muito do que agora se ouve é de uma verdade absoluta. Uma verdade conveniente a quem quer debater o País com um mínimo de seriedade.
P.S. - Só não percebi porque é que continuam a fazer ”powerpoints” ilegíveis. Para usar a linguagem do ”Compromisso”, são ineficientes, confusos, redundantes e não criam riqueza. Só provocam estranheza e alavancam a miopia.
Mas o Compromisso Portugal ”versão 2006” ganhou claramente face ao desfile de 2004. Talvez tenha tido menos ‘hype’ por não ser uma novidade, mas ganhou substancialmente com o momento político. Em 2004, o Compromisso era facilmente visto como um cavalo de Tróia de propostas que o governo de Durão Barroso não arriscava fazer e que, assim, tinham um primeiro teste na opinião pública e com a vantagem de ter pessoas a dar a cara por elas. Em abono da verdade, o movimento não era isso mas deu muito jeito ao governo, que fugiu como o Diabo da cruz de qualquer reforma com esse nome, com excepção de Manuela Ferreira Leite que se limitou a fechar a torneira, arte em que é mestra sem que daí venham grandes vantagens ao mundo, ao PSD ou a ela própria.
Desta vez também tivemos as leituras políticas óbvias. Cavaco recebeu o movimento em tempo recorde, porque fazia sentido e porque o seu ”Mourinho” (Alexandre Relvas) é um dos cabeças de cartaz. Sócrates, com cálculo e método, adiou a audiência porque se quer livrar da fama de liberal e porque já tem tanto capital na Banca e no mundo das finanças que um pouco de desprezo público até lhe fica bem, sobretudo quando o Congresso do PS se aproxima...
Para além do aligeirar da carga política foi óbvia uma maior consistência de propostas, sobretudo na Segurança Social, a única que pude ouvir e ler com bastante atenção. É uma proposta que mantém uma essência liberal mas que se aproxima da realidade, ou seja, do país, do sistema político e da nossa matriz constitucional. Em vez da tão falada privatização, estamos perante uma proposta de capitalização que tem, no mínimo, que ser discutida. Merece-o claramente, porque tem números, factos e projecções e não está ferida por nenhum preconceito ideológico. O PSD devia olhar para perceber como se faz uma proposta. PS, Bloco e PCP deviam, pelo menos, parar para a ler.
É uma área em que tenho muitas dúvidas e uma única certeza: o futuro não será risonho. Vamos todos (ou quase) pagar para receber menos. O tema é demasiado sério para não ser discutido. Não é por acaso que o Compromisso foi ”recrutar” para esta proposta Carlos Pereira da Silva, uma das pessoas que mais sabe de segurança social em Portugal, que trabalhou com Ferro Rodrigues anos e anos e que nunca ninguém imaginou ver no Convento do Beato. É óbvio que ser ele a falar é substancialmente diferente, do ponto de vista comunicacional, do que deixar todo o palco para os empresários do costume. Duvido que o Governo leve a sério a proposta e Vieira da Silva tem argumentos para a rechaçar. Mas muito do que agora se ouve é de uma verdade absoluta. Uma verdade conveniente a quem quer debater o País com um mínimo de seriedade.
P.S. - Só não percebi porque é que continuam a fazer ”powerpoints” ilegíveis. Para usar a linguagem do ”Compromisso”, são ineficientes, confusos, redundantes e não criam riqueza. Só provocam estranheza e alavancam a miopia.
Ricardo Costa
Artigo-opinião publicado no jornal Diário Económico.