quinta-feira, julho 06, 2006
O Irão tem direito à tecnologia nuclear
Em resposta ao artigo de Maryam Radjavi, presidente do Conselho Nacional da Resistência Iraniana (CNRI), publicado no nosso jornal [Le Figaro] a 29 de Junho, a embaixada do Irão em Paris fez-nos chegar a seguinte resposta.
Os esforços da República do Irão ao longo dos últimos anos demonstram claramente que este país é um dos pioneiros na luta contra as armas de destruição massiva. O Irão, tendo sido vítima das armas de destruição massiva, encontra-se entre um dos primeiros países a aderir ao Tratado de Não Proliferação e cumpriu sempre o regulamento da Agência Internacional de Energia Atómica e os acordos de salvaguarda nuclear. Tomando em consideração os diferentes elementos de segurança ambiental internacional, o Irão aderiu aos diferentes tratados de desarmamento, tais como o CWC (Chemical Weapons Convention), BWC (Biologiacal Weapons Convention) e CTBT (Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty), e foi sempre um dos principais entusiastas de um Médio Oriente livre de armas nucleares, ainda que, infelizmente, grandes potências nucleares se mostrem pouco receptivas.
Para estabelecer um clima de confiança, ao longo dos três últimos anos, o Irão aplicou, voluntariamente, medidas que iam consideravelmente além dos seus compromissos internacionais, tais como: suspender o enriquecimento, a aplicação do Tratado de Não Proliferação (TNP) e as cooperações foram mesmo mais além, oferecendo a possibilidade aos inspectores da Agência Internacional de Energia Atómica de inspeccionar mais de duas mil vezes as instalações nucleares e militares.
Por ouro lado, tomando o caminho das negociações, o Irão procura levar todas as dúvidas ligadas ao desenvolvimento do seu programa de energia nuclear civil e superar a dificuldades que surgem, ligados aos seus direitos, aos quadros do TNP. Esta questão inquieta não somente o Irão, mas igualmente a maior parte da comunidade internacional. A declaração dos países não alinhados (116 países) e dos países da Organização de Conferência Islâmica (56 países) manifestam a sua extrema inquietação ao ver os países em vias de desenvolvimento privados do seu legítimo direito de adquirir tecnologias avançadas e de ver um círculo restrito de países detentores do monopólio. A vontade iraniana de dispor de tecnologia nuclear baseia-se nas necessidades reais deste país na era da globalização. Dispor de tecnologias avançadas é duma importância vital para o desenvolvimento político, económico, científico e social do nosso país. O Irão esta perfeitamente consciente que o desenvolvimento e o bem-estar desempenham um papel determinante na luta contra a pobreza, o extremismo, o tráfico de estupefacientes e a imigração ilegal a nível regional. O desenvolvimento e o crescimento do nível de vida na região favorecem a instauração da paz, da estabilidade e da segurança internacional.
O Irão é um país responsável e perfeitamente consciente do facto que mais capacidade [energética] acarrete, por conseguinte, mais responsabilidade. Deste modo, respeitar o TNP na íntegra representa uma das nossas prioridades. Contudo, face a outros países independentes e soberanos, o Irão não renuncia ao seu direito legítimo nos quadros do TNP e insiste na necessidade de estabelecer um equilíbrio entre as suas obrigações e os seus direitos. Está aberto a todas as soluções pacíficas de forma a levar todas as apreensões relativas aos eventuais desvios nos acordos do processo de enriquecimento de urânio a bom termo.
Seyed Ale Moujani (Porta-voz da embaixada do Irão em Paris) (traduzido do francês por João Entresede)
Artigo publicado no jornal Le Figaro, do dia 6 de Junho de 2006
Irão – Coreia do Norte: o eixo da chantagem
A Ásia susteve a respiração ontem, quando se soube que a Coreia do Norte tinha disparado vários mísseis que caíram no mar do Japão. Entre eles, o míssil de longo alcance Taepodong 2, que, numa versão mais aperfeiçoada, será teoricamente capaz de atingir o Alasca. A comunidade internacional, compreendendo a China e a Rússia, reprovou unanimemente esta provocação que constitui um retrocesso nos esforços em vias de alcançar uma solução para a crise nuclear na península coreana. Este concerto de protestos angustiados suou, aos ouvidos de Pyongyang, como uma música calma. Irritado pelo fim, desde de Setembro de 2005, do acordo de «negociar a seis» sobre o seu programa nuclear, Kim Jong–il, procurava retomar terreno a respeito dos Estados Unidos, na esperança de consertar um diálogo directo com a super potência que colocou estes «antes-depois da tirania» no seu «eixo do mal». Para ter visibilidade na cena internacional, a Coreia do Norte, uma economia devastada devido às fomes frequentes, possui dois instrumentos de peso: a suas armas nucleares rudimentares – possuindo, aparentemente, uma dezena de exemplares – e os mísseis que fabrica e exporta. De há dez anos para cá, o país gere estas duas vantagens com habilidade de quem já conhece bem o terreno, alternando entre concessões e rupturas. A chantagem – alguns dirão a discussão – trouxe os seus frutos. Condeleeza Rice, secretária de Estado americana, prometeu indirectamente no último ano que os Estados Unidos não lançariam ofensivas militares contra a Coreia do Norte.
Stéphanne Marchand (traduzido do francês por João Entresede)
Editorial do jornal Le Figaro, de 6 de Junho de 2006