sábado, agosto 19, 2006
Sentimientos reñidos en Rusia en el 15 aniversario de la asonada golpista
Rusia recuerda hoy con sentimientos divergentes y mucha indiferencia el frustrado intento de golpe de estado que hace 15 años selló la caída del comunismo y precipitó la desintegración de la Unión Soviética. Apenas un centenar de militantes comunistas se ha dado cita en Moscú, con banderas rojas, retratos de Lenin y Stalin y consignas en memoria de la URSS, para rendir homenaje a aquel "intento de salvar el país" de las reformas aperturistas del presidente soviético, Mijaíl Gorbachov. Los congregados, en su mayoría gente en edad avanzada, tampoco escatimaron críticas al primer presidente de Rusia, Borís Yeltsin, quien aprovechó su victoria sobre los golpistas para desbancar del Kremlin a Gorbachov, desmembrar la URSS y emprender dolorosas reformas capitalistas.
"En los años de estas reformas hemos perdido 10 millones de habitantes... Dos terceras partes de la población viven por debajo del umbral de la pobreza, y el nivel de vida apenas supera al de 1991", denuncia en el mitin el dirigente comunista Vladímir Gúsev. Las autoridades, por su parte, han eludido celebrar el aniversario, apenas recordado por la televisión oficial con algunos documentales, y sólo el partido liberal Unión de Fuerzas de Derechas ha convocado una marcha para recordar aquellos días, cuando "el pueblo se sintió libre y capaz de hacer historia y defender la democracia".
Gorbachov ha declarado en estos días que los halcones del Politburó comunista actuaron entonces contra él movidos por "el temor de perder sus puestos", y no por el deseo de salvar el país, como sostienen. El artífice de la perestroika admitió que su otro antagonista de entonces, Yeltsin, "jugó un papel decisivo" en la derrota de la asonada, pero, según él, sus ambiciones personales de poder "hicieron que perdiéramos el país".
Quince años después, un sondeo del Centro sociológico Levada revela que el 39% de los rusos considera que la usurpación del poder por la junta golpista sólo fue una pelea entre los clanes gobernantes. Otro 36%, nostálgicos de la URSS, cree que la intentona golpista fue un acontecimiento trágico que tuvo nefastas consecuencias para el país y el pueblo, al precipitar la desmembración de la URSS. Sólo un 13% de los encuestados cree que aquello fue el triunfo de una revolución democrática que acabó con el poderío del Partido Comunista, y el restante 12% ni siquiera supo definir su actitud y valorar aquellos sucesos.
Por otra parte, un 44% opina que Rusia, que se erigió entonces en sucesora del imperio comunista y emprendió a tropezones reformas democráticas y dolorosas transformaciones económicas, va hoy en día por mal camino. Sostiene lo contrario otro 30%, satisfecho con las libertades democráticas y económicas conseguidas en los últimos tres lustros.
Principio del fin de la URSS
El 19 de agosto de 1991 una junta golpista creada por el ala dura del Partido Comunista y autodenominada Comité Estatal de Emergencia incomunicó a Gorbachov en su residencia en el mar Negro y usurpó el poder central en la URSS para "evitar la descomposición del país". El objetivo de la junta, encabezada por el vicepresidente de la URSS, el jefe del KGB y el ministro de Defensa, era impedir la firma por las repúblicas de un Tratado de la Unión preparado por Gorbachov para renovar la URSS sobre una base no ideologizada.
Los golpistas introdujeron tanques en Moscú e impusieron el toque de queda, pero Yeltsin encabezó una campaña de desobediencia civil y, respaldado por Occidente, convirtió la "Casa Blanca", sede del Parlamento ruso, en el cuartel general de la resistencia. La negativa del Ejército de apoyar a los golpistas y la firme actitud de los moscovitas, que forman un escudo humano en torno a la Casa Blanca para evitar su asalto, condicionaron el fracaso de la asonada, que terminó dos días más tarde con la detención de los golpistas y el retorno de Gorbachov.
Pero en Moscú el poder ya había pasado a manos de Yeltsin, quien no dudó en capitalizar su victoria y suspendió las actividades del Partido Comunista. El 8 de diciembre los presidentes de Rusia, Ucrania y Bielorrusia disolvieron la Unión Soviética, y el día 25 Gorbachov anunció su dimisión y la desintegración de la URSS, y la bandera tricolor rusa sustituyó en el Kremlin a la enseña roja soviética.
La intentona golpista de 1991 "nos dio una lección: si seguimos haciendo historia mediante golpes palaciegos, prescindiendo de la democracia y la participación popular en los procesos políticos, nunca tendremos un país libre y próspero", según el resumen de Gorbachov.
EFE - Moscú
Prudência calculada em torno de Cuba
Desde da hospitalização de Fidel Castro, a União Europeia fechou-se em copas no que diz respeito a comentar a situação de Cuba. Oficiosamente, em Bruxelas, limita-se a desejar ao presidente cubano, a título pessoal, as melhoras e de apelar uma vez mais ao respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais, à libertação de prisioneiros políticos, à aplicação de regras de pluralismo democrático. Dizem-se prontos para retomar o diálogo político com os dirigentes da ilha e ajudar estes a assegurar a transição para a democracia, na condição de Havana fazer um gesto nesse sentido. Por agora, prefere-se agir com cautela.A posição oficial dos Europeus no que diz respeito a Cuba foi reafirmada a 12 de Junho, antes da doença de Fidel Castro, pelos ministros dos negócios estrangeiros. Fundamenta-se, recordaram, sobre um “empenhamento construtivo” e um “diálogo crítico”. O diálogo com Havana deverá abordar “nomeadamente” as questões dos direitos do homem, mas as autoridades cubanas deverão primeiro trazer “melhorias concretas” da situação neste domínio. Os vinte e cinco destacam o livre acesso à informação, à liberdade de expressão, de associação e de reunião, à protecção da vida privada, garantia dos processos regular.
Em Junho de 2003, para protestar contra a condenação de 75 opositores a pesadas penas de prisão, a União decidiu limitar as visitas governamentais de alto nível, de reduzir a sua participação nos eventos culturais e sobretudo de convidar os dissidentes nas cerimonias organizadas para comemorar festas nacionais. Estas boas resoluções não durarão muito tempo. Sob a pressão do novo chefe do governo espanhol, José Luis Zapatero, as sanções foram suspensas em Janeiro de 2005. Em Junho de 2006, os ministros dos negócios estrangeiros confirmaram esta suspensão e escolheram prorroga-la até à próxima avaliação das suas posições comuns, em Junho de 2007. Ao mesmo tempo, a União exprimiu a sua vontade de intensificar as suas relações com a oposição pacífica e com a sociedade civil.
Estas hesitações testemunham a dificuldade por que passam os Europeus ao decidir claramente entre as duas atitudes. A União quer ao mesmo tempo manifestar o seu desacordo com as violações dos direitos do homem e ser cautelosa com o futuro. Não tem nenhuma ilusão sobre uma possibilidade de mudança de comportamento de Fidel Castro, mas não põe de parte a hipótese de que os seus sucessores se mostrem mais flexíveis. “A melhor maneira de fazer evoluir um regime político é pela presença, o diálogo e a cooperação”, sublinhou há alguns dias o presidente do Parlamento Europeu, Josep Borrel.
Certamente, como sublinharam os eurodeputados em Fevereiro, esta mudança de direcção da União não tem nenhum efeito sobre os dirigentes cubanos. Mas a morte do ditador poderá, segundo os vinte e cinco, permitir a evolução que convém encorajar para evitar, no momento seguinte, um perigoso caos.
Tal aposta acarreta riscos. A EU aposta mais nos homens que estão hoje próximos de Fidel Castro do que na dissidentes. “Por que é tão difícil apoiar as forças democráticas em Cuba e era possível faze-lo na Bielo-Rússia?”, pergunta uma deputada sueca, Cecilia Malmström. O Parlamento sempre se mostrou activo na defesa dos opositores cubanos. Atribuiu o Prémio Sakharov, que reconhece os militantes dos direitos do homem, ao dissidente Oswaldo Paya em 2002 e às “damas de branco”, esposas, irmãs ou filhas dos 75 condenados políticos, em 2005.
Artigo opinião publicado no jornal Le Monde.
Marcelo Caetano
A primeira coisa que importa dizer sobre Marcelo Caetano quando passam cem anos do seu nascimento é que já poucos sabem quem foi. Na memória dos portugueses, Salazar fica chefe solitário de 40 anos de triste existência de Portugal no séc. XX, deixando um legado que o seu breve sucessor não conseguiu resolver. Talvez seja por isso que a comparação entre os dois se imponha.O jovem Marcelo Caetano vinha de uma direita mais radical do que Salazar e passou parte dos anos 30 a dizer-lhe que as instituições deveriam ser mais robustas, com mais ideologia, mais corporativismo, mais jovens inspirados no fascismo, perante a prudência pragmática deste último. Cooptado pelo ditador, passou a ser um fiel discípulo, mais aberto à experiência e à modernidade autoritária do que Salazar, e dizendo-lhe de vez em quando o que pensava.
Mas o Marcelo que interessa à História contemporânea é o da década de 60, quando, afastado do poder, se torna reserva perante as crises finais do salazarismo. Quando Salazar enfrenta o golpe do gen. Botelho Moniz e o seu nome aparece. Quando a Guerra Colonial emerge e algum reformismo alterna com o integrismo o seu nome aparece. Quando nessa década de grande crescimento económico e mudança social se pensa na alternativa europeia o seu nome aparece.
Acresce que a coincidência de estar de regresso à Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa nesta década conturbada lhe permite não só reforçar o grupo dos discípulos académicos como ir informalmente construindo o pequeno núcleo dos "marcelistas", como que preparando a roda da sucessão. Marcelo emerge então junto de alguns círculos da classe média, mesmo da oposição, como uma alternativa liberalizadora e modernizadora ao ditador envelhecido.
Caetano não traiu as esperanças e houve de facto alguma "liberalização". O erro foi pensar que nos regimes ditatoriais "liberalização" queria dizer democratização. Sem Guerra Colonial, talvez a esperança de uma democratização elitista se concretizasse. Mas os valores e as ideias moldam mais os homens do que o pragmatismo da democracia. Caetano, no fundo, também não imaginava Portugal sem império e sabia que em democracia ele desapareceria em meses. Pior legado Salazar não lhe poderia ter deixado.
António Costa Pinto
Artigo opinião publicado no jornal Diário de Notícias.