quinta-feira, julho 06, 2006

 

Irão – Coreia do Norte: o eixo da chantagem

A Ásia susteve a respiração ontem, quando se soube que a Coreia do Norte tinha disparado vários mísseis que caíram no mar do Japão. Entre eles, o míssil de longo alcance Taepodong 2, que, numa versão mais aperfeiçoada, será teoricamente capaz de atingir o Alasca. A comunidade internacional, compreendendo a China e a Rússia, reprovou unanimemente esta provocação que constitui um retrocesso nos esforços em vias de alcançar uma solução para a crise nuclear na península coreana.

Este concerto de protestos angustiados suou, aos ouvidos de Pyongyang, como uma música calma. Irritado pelo fim, desde de Setembro de 2005, do acordo de «negociar a seis» sobre o seu programa nuclear, Kim Jong–il, procurava retomar terreno a respeito dos Estados Unidos, na esperança de consertar um diálogo directo com a super potência que colocou estes «antes-depois da tirania» no seu «eixo do mal». Para ter visibilidade na cena internacional, a Coreia do Norte, uma economia devastada devido às fomes frequentes, possui dois instrumentos de peso: a suas armas nucleares rudimentares – possuindo, aparentemente, uma dezena de exemplares – e os mísseis que fabrica e exporta. De há dez anos para cá, o país gere estas duas vantagens com habilidade de quem já conhece bem o terreno, alternando entre concessões e rupturas. A chantagem – alguns dirão a discussão – trouxe os seus frutos. Condeleeza Rice, secretária de Estado americana, prometeu indirectamente no último ano que os Estados Unidos não lançariam ofensivas militares contra a Coreia do Norte.

Este ping-pong militar e diplomático é seguido com atenção no Médio Oriente, onde a invasão do Iraque sedimentou uma certeza: se fazemos parte da lista negra de Washington, vale mais possuir armas de destruição massiva. A prova está à vista no Irão, onde o programa de militar mobiliza a atenção diplomática há meses. Este país do «eixo do mal» importa tecnologias balísticas norte-coreanas e irá, seguindo o exemplo do seu fornecedor, mantendo relações estreitas com Abdul Kader Khan, o pai da bomba paquistanesa. O Irão, além disso, é um grande produtor de petróleo, o que lhe confere uma margem de manobra considerável, e os Estados Unidos não puseram de parte as negociações directas com o Irão.

Sobre o «eixo da chantagem», a república islâmica e a ditadura comunista copiam-se mutuamente. Em 1994 a Coreia do Norte consegui obter promessas de ajuda económica se suspendesse o enriquecimento do seu urânio. De seguida denunciou o acordo. O Irão, que suspendeu o enriquecimento em 2004, ameaça retomá-lo hoje. Teerão vai renunciar ao tratado da não proliferação nuclear como fez Pyongyang em 2003, sem mais nem menos? Só o futuro o dirá, mas as estratégias dos dois países assemelham-se: semear a confusão, ganhar tempo e utilizar a ameaça da bomba para saturar o regime.

Stéphanne Marchand (traduzido do francês por João Entresede)

Editorial do jornal Le Figaro, de 6 de Junho de 2006


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