terça-feira, julho 11, 2006
Ratzinger em cruzada

Depois de ter ido à sua terra - Alemanha e à terra do seu antecessor e protector - Polónia, Ratzinger decidiu que a sua terceira saída seria a Espanha.
Podia ter visitado qualquer país onde pudesse apelar ao fim da pena de morte.
Podia ter ido à Palestina apelar à paz e à convivência pacífica entre religiões.
Mas não, Ratzinger foi sim combater os “infiéis” da maioria parlamentar espanhola que aprovaram novas leis, nomeadamente a que facilita o divórcio, a que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a da adopção de crianças por homossexuais. Foi também combater contra o fim da obrigatoriedade da educação religiosa na escola pública.
Mas mais que uma missão de intolerância religiosa a sua viagem tem a marca vincada da intromissão nos assuntos políticos de Espanha. A crítica dos porta vozes do Vaticano à não presença de Zapatero na missa e na despedida são a prova da ingerência. Chegaram mesmo a comparar Zapatero com Fidel Castro e Jaruzelsky, os quais tinham assistido às missas de João Paulo II.
Ratzinger foi fazer campanha pelo PP e pela Opus Dei, os grandes organizadores da sua viagem. Foi dar alento e força à corrente mais conservadora da Igreja espanhola. Mas não pôde falar abertamente contra Zapatero. O conservadorismo católico foi sempre um obstáculo à separação entre o Estado e a Igreja, mas é o temor de o enfrentar que lhe dá força.
É este conservadorismo, que nos púlpitos das igrejas de paróquia atiça o ódio, o principal obstáculo à despenalização do aborto em Portugal. É até ele que faz alguns defensores da despenalização temerem o referendo. A realidade de Espanha, onde o conservadorismo é muito forte e por vezes até mais violento, é uma grande lição para que em Portugal se reforce a luta: também aqui a realidade muda, também aqui é possível conquistar maiorias sociais por estas causas.
Carlos Santos
Artigo opinião do site Esquerda