domingo, julho 09, 2006
Soares garantiu aos EUA que Portugal não avançaria para o comunismo poucos dias depois do 25 de Abril
Faz parte dos 320 mil telegramas trocados entre o Departamento de Estado e as suas representações em todo o mundo entre 1 de Janeiro de 1973 e 31 de Dezembro de 1974, que acabam de ser postos à disposição pública. Desses, quase três mil dizem respeito a Portugal nos meses que precederam e que se sucederam ao 25 de Abril de 1974 e à queda da ditadura portuguesa.
Em 1973, se experimentarmos conjugar “Portugal” com “Mário Soares” encontramos apenas 2 telegramas. Ambos referem a sua célebre visita e a denúncia do padre Hasting dos massacres cometidos pelas tropas portuguesas em Wyryamu, província de Tete, um tremendo golpe na desmoralização do regime junto das democracias ocidentais.
Avancemos no tempo. 1974. 2. 701 telegramas que referem Portugal (num total de 200.580). Desses, 377 dizem respeito a Soares. A 20 de Maio, um despacho de Lisboa para Conacri, então sede do Governo do PAIGC (Partido para a Independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde) no exílio, com cópia para as representações da Comunidade, das colónias portuguesas, da NATO e de Moscovo, dá conta do resultado do primeiro telefonema do embaixador americano em Lisboa — ainda não Frank Carlucci, que só chega em Dezembro deste ano, mas Stuart Nash Scott. Assunto: “Primeiro telefonema para o ministro dos Negócios Estrangeiros”.
Resumo: “ O ministro Soares garantiu que Portugal não avançará para o comunismo, apesar dos mais recentes desenvolvimentos internos e das intenções de restabelecer relações com os países de Leste, incluindo URSS, China e Jugoslávia. Os seus esforços dirigem-se, neste momento, para as negociações como PAIGC das quais, aparentemente, Portugal quer sair com um acordo para reter Cabo Verde em troca da independência da Guiné-Bissau.
(Texto publicado na íntegra na edição de hoje, domingo, do PÚBLICO)
Teresa de Sousa