domingo, julho 09, 2006
A UNIÃO APOSTA A SUA CREDIBILIDADE NA CRISE ISRAELO-PALISTINIANA
O cabo Gilad Shalit deve ser libertado! Como também os 9000 prisioneiros palestinianos em Israel – dos quais 128 mulheres, 300 adolescentes e 900 detidos sem julgamento! Não nos enganamos. A ofensiva do exército israelita a Gaza e a captura – feita sem precedentes – dum terço dos ministros palestinianos, do Presidente do parlamento e de inúmeros deputados do Hamas não têm, por assim dizer, nada a ver com a vontade de libertar este soldado. Estes planos estavam prontos antes desta captura. O governo de Olmert aproveitou-se, com efeito, desta ocasião, para tentar fazer cruzar uma etapa decisiva a uma estratégia bem delineada e doravante bem conhecida. Em primeiro lugar, trata-se de inverter o governo palestiniano, deixando destruir o pouco que resta da Autoridade palestiniana do Presidente Abbas. De seguida, como sempre, dirão que já não existe um interlocutor palestiniano para negociar. O caminho será, deste modo, deixado livre para impor unilateralmente as fronteiras de Israel: reagrupando as colónias em três grandes blocos mais fáceis de defender; divisão dos territórios palestinianos e anexação de cerca de metade da Cisjordânia, do Vale do Jordão e de Jerusalém-Este; continuando a construção do Muro. Numa palavra: um facto que deita por terra qualquer esperança de um Estado palestiniano digno deste nome. Por último, o caos assim gerado na sociedade palestiniana permitirá justificar o recurso duradouro à força em nome do imperativo de segurança. Esta estratégia não é somente monstruosa em relação ao povo palestiniano. Corre o risco de encher os dias seguintes de pesadelos ao próprio povo israelita.Como imaginar que de uma tal destruição possam emergir como por milagre, dirigentes palestinianos dóceis e uma população que esteja de acordo? Quem semeia o desespero colhe a violência. A experiência colectiva da sociedade palestiniana corre o risco de pensar que o facto de ter jogado o jogo da democracia apenas lhe trouxe mais desgraça. E qual o papel da União Europeia face a este desafio? Vai deixar destruir as instituições palestinianas que, durante doze anos, ajudou a construir? Vai abandonar o Presidente palestiniano em pleno tormento, que teve êxito, com o chefe do governo que ninguém ousava esperar: a conclusão de um acordo que reconheceria, de facto, Israel, e abrindo caminho a um governo de união nacional? Ou vai ter a coragem de impor a sua marca, exigindo a libertação dos responsáveis do Hamas, restabelecendo uma ajuda relevante e uma cooperação activa com a Autoridade o governo palestinianos, e falando abertamente sobre as obrigações que incubem a qualquer Estado, sem excepção, em virtude do direito internacional e da Convenção de Génova? Penso que é sobre este terreno e agora que a Europa vai jogar uma parte da credibilidade do projecto euro-mediterrânico, e, de uma forma mais lata, a sua própria credibilidade enquanto actor mundial.
Francis Wurtz é presidente do grupo parlamentar europeu GUE/NGL (traduzido do francês por João Entresede)
Artigo do site Europe & Us