quarta-feira, agosto 30, 2006
Jornalismo 'vale tudo'
O ex-colaborador da RTP Eduardo Cintra Torres (ECT), que assina alegremente textos nas páginas de media do Público, inventou um novo conceito de jornalismo: o "vale tudo". Para abreviar, o VT.
O VT distingue-se por misturar o que os "livros de estilo" recomendam que não se misture: opinião com informação. Exemplo: ECT critica a RTP pelos seus critérios editoriais. É uma opinião. Para sustentar a opinião, diz que a Direcção da estação recebe ordens do Governo. Trata-se de um facto. Como pode dar processo, ECT transforma--se em jornalista e defende-se com "fontes" que obviamente não denuncia. Está então a dar notícias...
Aplicado ao próprio Cintra Torres (mero exercício de estilo, claro), permitir-me-ia afirmar que, segundo as minhas fontes (eu, jornalista), foi o PSD a encomendar o texto ao crítico, prometendo-lhe que voltará a ganhar dinheiro na RTP quando o partido regressar ao poder. Agora, o "eu cronista" opina: é escandaloso que tal suceda e alguém no Pú-blico devia pôr ordem em ECT. Sem dificuldade, opinei, dei notícias, protegi a minha retaguarda e deixei uma pessoa na lama. É assim que se faz VT. Nunca se saberia se o que escrevi é verdade ou mentira.
A virtude desta espécie de jornalismo é a impunidade: qualquer um pode escrever o que quer debaixo do chapéu das "fontes", ou da liberdade de opinião, conforme a conveniência. ECT sabe como funciona a comunicação: lançada a atoarda, fica o carimbo colado a quem ele critica, e depois quem está mal que se queixe. A justiça não funciona e a memória dos homens é curta. Ele conta com isso.
É Portugal e o português no seu pior: le-viandade na escrita, pose "eu cá é que os topo", esperteza saloia de quem sabe que passa impune, uma pesada ambição de um dia ser realmente respeitado e até mesmo contratado e uma postura arrogante de quem julga saber da matéria. Não sabe. Fez-se crítico porque tanto insistiu que conseguiu. Num país civilizado, há muito que escrevia nas paredes de sua casa, tal a quantidade de insinuações e acusações (por provar) que tem feito, além do conflito de interesses em que cai sempre que colabora com canais de TV. Em Portugal, não só existe como se assemelha a uma voz autorizada. Bom, sejamos rigorosos: a especialidade mais próxima da televisão que ECT alguma vez alcançou foi a vender antenas parabólicas. Seria pior se tivessem sido televendas...
Pedro Rolo Duarte
Artigo opinião publicado no jornal Diário de Notícias.
O VT distingue-se por misturar o que os "livros de estilo" recomendam que não se misture: opinião com informação. Exemplo: ECT critica a RTP pelos seus critérios editoriais. É uma opinião. Para sustentar a opinião, diz que a Direcção da estação recebe ordens do Governo. Trata-se de um facto. Como pode dar processo, ECT transforma--se em jornalista e defende-se com "fontes" que obviamente não denuncia. Está então a dar notícias...
Aplicado ao próprio Cintra Torres (mero exercício de estilo, claro), permitir-me-ia afirmar que, segundo as minhas fontes (eu, jornalista), foi o PSD a encomendar o texto ao crítico, prometendo-lhe que voltará a ganhar dinheiro na RTP quando o partido regressar ao poder. Agora, o "eu cronista" opina: é escandaloso que tal suceda e alguém no Pú-blico devia pôr ordem em ECT. Sem dificuldade, opinei, dei notícias, protegi a minha retaguarda e deixei uma pessoa na lama. É assim que se faz VT. Nunca se saberia se o que escrevi é verdade ou mentira.
A virtude desta espécie de jornalismo é a impunidade: qualquer um pode escrever o que quer debaixo do chapéu das "fontes", ou da liberdade de opinião, conforme a conveniência. ECT sabe como funciona a comunicação: lançada a atoarda, fica o carimbo colado a quem ele critica, e depois quem está mal que se queixe. A justiça não funciona e a memória dos homens é curta. Ele conta com isso.
É Portugal e o português no seu pior: le-viandade na escrita, pose "eu cá é que os topo", esperteza saloia de quem sabe que passa impune, uma pesada ambição de um dia ser realmente respeitado e até mesmo contratado e uma postura arrogante de quem julga saber da matéria. Não sabe. Fez-se crítico porque tanto insistiu que conseguiu. Num país civilizado, há muito que escrevia nas paredes de sua casa, tal a quantidade de insinuações e acusações (por provar) que tem feito, além do conflito de interesses em que cai sempre que colabora com canais de TV. Em Portugal, não só existe como se assemelha a uma voz autorizada. Bom, sejamos rigorosos: a especialidade mais próxima da televisão que ECT alguma vez alcançou foi a vender antenas parabólicas. Seria pior se tivessem sido televendas...
Pedro Rolo Duarte
Artigo opinião publicado no jornal Diário de Notícias.