quarta-feira, agosto 02, 2006
Que força internacional para o Médio-Oriente?
Toda a gente está de acordo, por razões diferentes, com a implementação de uma força internacional na fronteira entre o Líbano e Israel. Como de cada vez que a questão se colocou ao resto do mundo, uma intervenção deste tipo suscita dúvidas. Primeiro sobre o nome da missão: força de intervenção, de interposição ou de estabilização? A terminologia acarreta consequências sobre as regras de empenhamento, a capacidade dos soldados da ONU se defenderem ou de atacarem. A ONU está ligada a quinze operações que mobilizam mais de 70 000 homens. Desde do fim da Guerra Fria, quando a rivalidade Este-Oeste paralisava a mobilização internacional, as intervenções das Nações Unidas multiplicaram-se. Com sucessos mitigados. O direito de intervenção deu a oportunidade à comunidade internacional, ou supostamente tanto porque tinha o aval do Conselho de Segurança da ONU, de se interpor entre os beligerantes ou supervisionar um acordo final sem ela.
Estas intervenções tiveram por vezes êxitos. Em Timor, uma “nação-quadro”, a Austrália, agiu com outros países em nome da comunidade internacional. Os outros foram criticados por causa da ambiguidade da missão que tinha sido imposta às forças internacionais. Nos primeiros anos do conflito jugoslavo, os capacetes azuis da ONU deviam manter uma paz que não existia.
Para restabelecer a calma, teriam devido dispor de meios de acção e sobretudo de instruções que eles não tinham. Deviam ser neutros numa situação em que a neutralidade favorecia nitidamente um campo contra o outro e conduzia ao impasse das forças internacionais. Até ao dia quando os capacetes azuis foram feitos reféns por um dos protagonistas, antes dos seus camaradas assistirem sem tropeçar ao massacre de Sebrenica…
Na época do conflito jugoslavo, a questão dum exército da ONU ressurgiu. A dificuldade de recrutar dos países contribuidores, o comprimento da cadeia de comando, a ausência de uma verdadeiro chefe de estado-maior da ONU, sublinhou o fracasso dos meios de intervenção da comunidade internacional. Escaldados por esta experiência, os Ocidentais utilizaram o arsenal da NATO durante a guerra do Kosovo. E repetiu-se a experiência no Afeganistão depois dos atentados de 11 de Setembro de
Os peritos são unânimes. Os responsáveis pela manutenção da paz estão cépticos. Prevêm que uma força internacional permanente teria certamente a vantagem de reduzir os prazos de mobilização, mas teria o inconveniente de permitir às grande potências (os Estados que têm acento permanente no Conselho de Segurança da ONU) de se desembaraçar de uma parte das suas responsabilidades, enquanto este “exército” seria o refugio de unidades dos países pobres atraídos para um solo confortável.
Estas questões, práticas e estratégicas, colocam-se a propósito da força internacional que poderá ser enviada para o Médio-Oriente. Em que é que esta missão seria diferente da de Finul, no Líbano desde 1978, mas que foi incapaz de impedir o Hezbollah de provocar Israel, porque ela não tinham nem os meios, nem a missão? Jacques Chirac privilegia uma sequência tripartida: cessar-fogo, acordo político, desenvolvimento de uma força politica. É o bom senso, porque nenhuma Estado não aceitará enviar os seus soldados se não existir um cessar-fogo nem um entendimento prévio sobre o desarmamento do Hezbollah. Mas é também uma confissão de fraqueza dado que, para o projecto avançar, a solução supõe que o problema já esteja meio resolvido.
Daniel Vernet
Artigo publicado na edição do dia 2.08.06, do jornal Le Monde.